domingo, 8 de abril de 2018

CASA DOS PAPÉIS-105: LOCOMOTIVA



 
LOCOMOTIVA
Ei-la, a correr... Move-lhe o instinto
Do fogo, do ar, da força, nada mais...
E ela vai. Caminha. Tem veredas
Não tem léo nem destino, nem roteiro.
A cada uma distancia faz bravura...
E que chega e o povo se conforta,
Vendo-lhe o fogo, o seu rumor promove
Uma espécie de gozo, um som, um ruído...

É a estação. Quem desce, quem prossegue
A viagem mais feliz, - o seu destino
O mundo é assim: é uma locomotiva
A correr, a correr, numa vertigem
A história nos ensina:- prosseguir;
É a lei do avançar - é o caminhar.
Só não caminha quem não quer viver...
 
É a maquina, bem sei. Dou-te o perdão.
Não tem mais do que ferro no teu ser.
Deus te salve, porém. És um poder.
Vibras! Teus raios de luz dentro de ti,
- Porque carregas tantos corações,
Tantos são eles bons, purificados,
Que os invejo, ser feliz...são bons,
Os simples que caminham, como eu,
A rota do destino ignorado.

-Para poderes correr, locomotiva,
Eu tive tanto almejo em ver-te assim
Tantas foram as minhas esperanças,
Tantos os élos que parti, uns após outros,
É que o machado mais e mais vibrou
Inhospitos sertões civilizou,
O braço enorme do caboclo audaz,
Para depois, virem, ao leito os trilhos teus.

E agora? A cidade quasi aberta.
Nega-lhe o sol um raio d'ouro fino...
Umas casinhas feitas de sapé,
Ao pé dos sitiocas, nada mais...
Vem ali, o pobre caboclo?
É o leão da mata adusta, envenenado
Pela febre do crescer, vertiginoso,
A BUFAR, pelo progresso, em destemor!

E assim fez-se esta estrada; seu roteiro,
Atingiu prontamente, a desejada
Meta do seu mais feliz destino...
Surgiu Miranda Sales! Ei-lo entre nós,
O peito abrindo, ao povo, oferecendo
A sua alma, o seu ser, o seu pendor-
LOCOMOTIVA DOURADENSE
A riqueza desta vida, este esplendor. 

CORRÊA E SILVA - OUTUBRO DE 1932
(Ao meu ilustre amigo João F.Sales por ocasião do aniversario d' "A UNIÃO")
A UNIÃO-Nº53-ANO I-DOURADO, 23 DE OUTUBRO DE 1932
Orgão dos Funcionários da Cia. Estrada de Ferro do Dourado
Grande circulação na Zona Douradense



ARQUIVO: CASA DOS PAPÉIS
 

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