sábado, 9 de dezembro de 2017

CASA DOS PAPÉIS-79: VANDA CATARINA DONADIO II


 
CORAÇÃO VERDE
 
Bem no centro do estado de São Paulo pulsa um coração diferente chamado bairro do Bebedouro, fica bem ali entre Dourado e Brotas, um "tirico" de espingarda como diria o caipira.
Como o próprio nome já denuncia, é um lugar de nascentes cristalinas, intocadas pela ambição destruidora. É um vale encantado  com muitas palmeiras, macaúvas, ipês, riachos cantadores, onde vivem garças, saracuras, periquitos, papagaios, lindos beija-flores dourados (ainda não catalogados), borboletas azuis, tucanos, lobos guarás, tamanduás, bandos de macacos sabidos etc. Alguns poderão até estranhar e fazer a pergunta, mas como? Aqui tão pertinho?! É simples, em primeiro lugar os pioneiros habitantes do lugar, há mais de duzentos anos nunca fizeram muita alarde de sua existência. Povo sefardim, andejo, desconfiado, quieto com a resistência de um camelo, preferiam casar-se entre si mantendo a unidade do local, além é claro dos costumes diferentes da cidade. Por ignorância aqueles que moravam nas cidades e os novos imigrantes europeus chamava-os de "caboclos". Exímios cavaleiros, até as mulheres eram requisitadas para as "domas". Povo amante da liberdade, da terra, dos animais e da natureza, que utilizavam para subsistência, até a época da Segunda Guerra Mundial quando começaram a ocorrer com certa dificuldade os casamentos mistos. Gente perronha, diziam os antigos. Uma segunda causa foi a terra arenosa  com muita água, mas sem os requisitos para a produção do café ou da cana. Produtos que fizeram encher muitas algibeiras paulistas, desde o começo do século. Essa candura da terra deu ao Bebedouro uma ingenuidade sábia de nunca despertar a ambição de nenhum forasteiro e que mantém até hoje bandos de garças livres...
E o Bebedouro foi ficando meio de lado como seu povo gostava. Até com um cemitério independente, que ninguém teve ousadia de mexer.
O Bebedouro chegou a pertencer ao município de Rio Claro, depois para Brotas e finalmente de Dourado. Na verdade o Bebedouro pertence a ele mesmo, confirmando a natureza independente, sabiamente escorregadia, de seus primeiros moradores. Basta observar as imensas figueiras plantadas na entrada de cada propriedade a marca verde da origem, escrita na natureza, por aqueles que já tinham um coração verde muito antes da onda ecológica...
No Bebedouro existe também a Pedra Branca, ou Pedra Agnelli como a chamam, uma formação rochosa de difícil acesso, onde dizem as pessoas de várias gerações, ocorrer um fenômeno estranho, uma luz azul é emitida da montanha para o céu, sempre no mesmo horário. Além possuir estranhas escritas, indecifráveis. Infelizmente os moradores do local estão lutando sozinhos para preservá-lo, pois gente malvada, rouba durante a noite papagaios e outros bichinhos silvestres para comercializar.
Como seria bom se os cientistas e pesquisadores das universidades de São Carlos fossem acampar por  lá e descobrir muito mais, ajudando nessa preservação...
No mês de julho lá estiveram escoteiros de várias partes do mundo acampados e encantados, querendo ficar ali para sempre se pudessem.
Para acampar tem também o "Saltinho" é só perguntar em Dourado onde mora o proprietário. É baratíssimo. Mas por favor respeitem a natureza do nosso querido Estado de São Paulo... Para quem mora em São Carlos é só pegar a SP 215 e ir até Dourado, depois é só descer a serra que levará a um outro mundo, no centro do estado, onde ainda pulsa um coração verde! 

VANDA CATARINA DONADIO
I - Artigo publicado no jornal "A TRIBUNA" de São Carlos em 26/10/1998
II- "O DOURADO" - Nº68-ANO III - Dourado, 24 de Novembro de 1998


 
Bairro do Bebedouro/Morro Chato - Visto da Fazenda Serra Dourada de Miguel Giudicissi 
 
 
 
 
Pedra Branca/Pedra Agnelli - Foto Grupo Ecociente
 
 
 
 2015 - Cemitério do Bebedouro

 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário