sexta-feira, 31 de março de 2017

CASA DOS PAPÉIS-10- PROFª. D. LIA MELLO BUZZÁ


OUVINDO, VENDO E COMENTANDO

          Do meu portãozinho divisei a paisagem costumeira.
          A lua redonda e grande ilumina o céu limpo do inverno. A igreja bonita culminado na cruz colorida e esguia no alto da torre. Palmeiras imperiais na frente do grupo escolar completam o cenário bucólico.
          A  praça mais iluminada, preparando para a festa do padroeiro, apertada de gente animada.
          João e eu por muitos anos fomos os "caixas" da barraca de pastéis e vendiam-se mini pizzas, coxinhas e quentão.
         Que movimento! Como comem!
         Lá pelas horas tudo já acabou. É um desfile sem fim de gente enfeitada, arrumada para festa, comprando de tudo. É até bonito de se ver.
         No coreto o conjunto toca alto alegrando mais ainda a gente alegre.
         As crianças se divertem no pula-pula no colchão de ar, no trenzinho que dá uma volta pela cidade, apitando e badalando o sino. E não há pipoca, algodão doce, uva e maçã do amor  que chegue, tudo uma delícia para a avidez da criançada que no fim da festa acaba bem lambuzada.
         A moçada paquera assanhada!!!
         No ultimo dia da festa vem a procissão apinhada de gente respeitosa e que carregando o andor do padroeiro rezando e cantando com fé.
         Barraqueiros vem de fora e vende de tudo.
         E o pessoal compra, convicto de que tudo é mais barato, será?
        O mundo de hoje tão conturbado que guerreia por tudo isso a pureza é comovente. Pureza do povo de uma cidade que se diverte com simplicidade.
         Povo da minha pequena cidade.

 
 Paisagem vista do portãozinho da casa da Profª. Dª. Lia M. Buzzá e Dr. João B.O. Buzzá







Dona Lia Mello Buzzá e Doutor João

Artigo do jornal "Folha de Dourado"
Nº20 - 20/07/1991





 
 

terça-feira, 28 de março de 2017

CASA DOS PAPÉIS - 09 - RANCHO DO MORRO CHATO



LÁ NO "RANCHO DO MORRO CHATO"

          Domingo, dia 4 p.p, tivemos a grata oportunidade para fazer uma visita de recreação e cortez, dirigindo-nos à fazenda "Morro Chato", lá pelas bandas do velho e sempre lembrado Bebedouro, berço de Dourado.
          Já, quase uma centena de conterrâneos douradenses, ali se encontrava, toda alegre, vendendo um exuberância contagiosa de alegria e satisfação.
          "Rancho do Morro Chato", plantado às margens do "Jacaré-Pepira", em panorama todo tropical e acolhedor, abrigava em seu regaço centenas de amigos, que ali foram congratular-se com seus destemidos pioneiros, que são Filó Braga, Rafa Tavano, Gumercindo M. de Abreu, Helvio, Lafaiete, Azuir Martina, Américo Bufelli(o homem dos pastéis de coqueiro) e o néo douradense Sebastião N. Pioto.
          Nossa reportagem recebida calorosamente, ali se encontrou o governo municipal, representado pelo sr. Prefeito e vários Vereadores, e muitos amigos de projeção político-econômica-social douradenses.
         Aos glutões (quase pantagruélicos), foi oferecido uma bela choopada (oferta do Busto, todo rubicundo, parecendo uma flor de ipê...), acompanhada de um apetitoso churrasco (oferta do Dito do Lico) e leitoas assadas como oferenda da casa e outros petiscos.
    
   Joao F. Busto, Bem Braga, Zé Gonçalves, Adão de Moura, Filó Braga, Pedro Busto, ?, e Lafaiete.


        A tarde bela e ensolarada serviu para uma "limpeza mental", dos que acorreram ao "rancho", pois nada melhor para pôr de lado os "eternas" aflições cotidianas, que um contacto direto com a mãe natureza.
        Vivendo velhos tempos ali não faltou o "retratista" e várias "poses" foram tomadas e quando conhecidas farão sucessos.
         Houve, também, um grande soldado do "fogo", um bombeiro exímio, aquele que por longas horas trabalhou na bomba de ... chopp. Outros procuravam evasivas por não conseguirem um...piloteiro.
Enfim, "la festa sá fenita". Parabéns aos pioneiros do "Rancho Morro Chato". Em sugestão nossa, queremos implantar o "Dia do Rancho", que ele seja sempre o primeiro domingo do mês de Agosto de cada ano, para rememorar este festivo dia 4 de Agosto de l968.
                   Douradenses no Rancho do Morro Chato - Bebedouro - 04/08/1968


JORNAL DE DOURADO-Nº387-ANO VII-DOURADO, 11 DE AGOSTO DE 1968








 

sábado, 25 de março de 2017

CASA DOS PAPÉIS - 08 - NOSSA HISTÓRIA ( Acta da 1ª Eleição)



ACTA DA ASSEMBLEIA ELEITORAL

         Aos vinte três dias do mez de Agosto de mil oitocentos e noventa e sete, nesta Villa de São Baptista de Dourado, Comarca de Brotas, Estado de São Paulo, no edifício da futura Camara Municipal, as dez horas da manhã, reunidos os mesários Cidadãos Cap. Antônio Alves dos Santos, Adolpho Manuel Alves, Bento Correa dos Reis, Ananias Cardoso dos Santos e Maximiliano de Oliveira Sampaio, o primeiro como Presidente da mesa e os outros como mesários, todos investidos de taes cargos na forma da lei, tomaram elles assento juncto a mesa collocada com lugar separado por uma divisão do recinto, destinada para reunião dos eleitores. E logo o presidente declarou aberta a sessão (quarta da Comarca) ao recebimento das cédulas e aos demais trabalhos da eleição dos vereadores para a Camara do novo Municipio de Dourado, creado por Lei Nº502, de dezenove de Maio do corrente anno, designando para servir de secretario o mesário Maximiliano de Oliveira Sampaio, que esta subscreve, e para fazer a chamada o mesário Cap. Adolpho Manuel Alves. 
         Este começou a chamada em voz alta e inteligível, pela respectiva lista de eleitores, observando-se a ordem da numeração em que se achavam seus nomes inscriptos no alistamento.   A proporção que eram chamados, entravam os eleitores cada um por sua vez, no recinto separado para funcionar a mesa e apresentavam seu diploma e depositavam em uma urna fechada a chave e com uma simples abertura na parte superior, uma cédula fechada  por todos os lados r com o competente rotulo, assignando cada um logo depois de votar , no livro para esse fim destinado. Finda a votação foi lavrada por mim Secretario, e devidamente assignada, pelo Presidente e todos os mesários, um termo no referido livro logo em seguida a assignatura do ultimo votante, em cujo termo se declarou o numero de eleitores inscriptos. Aberta a urna depois de concluído o recebimento das cédulas e tiradas estas cada uma por sua vez, foram contadas, separadas, e envessadas, verificando-se existirem setenta e três cédulas com o rotulo para vereadores, e imediatamente o presidente designou o mesário Capitão Adolpho Manuel Alves para as ler cada uma por sua vez, annunciando que se ia proceder a respectiva apuração: repartia as letras do alphabeto pelos outros mesários, e cada um destes a medida que eram lidos os nomes dos votados, os escrevia em uma relação, notando o numero de votos e os publicava em voz alta.
         Terminada a leitura das cédulas eu Secretario, sem interrupção alguma, formei uma lista, pela relação dos excrutinadores, com os nomes dos sufragados segundo a ordem de votos dados a cada um e o presidente mandou imediatamente afixar edital da referida lista que é a seguinte:
          Obtiveram votos para vereadores o cidadão MAXIMILIANO DE OLIVEIRA SAMPAIO negociante residente neste districto quarenta e sete votos;  CAPITÃO ADOLPHO MANUEL ALVES agricultor, quarenta e trez votos: Dr. EVERARDO VALLIN PEREIRA DE SOUZA, agricultor, trinta e seis votos; JOSÉ VICTORINO DA SILVA, agricultor, trinta e trez votos; JOAQUIM CARDOZO DOS SANTOS, agricultor, trinta e um votos; MIGUEL DE BAREU PORTELLA, agricultor, vinte e oito votos; Sebastião Guilherme dos Santos, agricultor, vinte e seis votos; Francisco Martins Bonilha, agricultor, desoito votos; Ignacio Francisco, negociante, cinco votos; Carlos de Oliveira Sampaio, lavrador, dois votos; Emilio Guinther, administrador, um voto, deixando-se de apurar seis cédulas, uma por ser em branco, e outras cinco por estarem de encontro ao  regulamento eleitoral, decreto numero vinte, de seis de Fevereiro de mil oitocentos e noventa e dois, paragrapho quarto do artigo cento e vinte e cinco do citado regulamento.
          Concluído por esta forma os trabalhos da eleição, o presidente declarou dissolvida a assembleia eleitoral, as quatro horas da tarde, e lavrada a presente acta por mim Maximiliano de Oliveira Sampaio, Secretario da Mesa e assignada pelo Presidente e todos os mesários e deixando de fazer parte na mesa o mesário Benedicto Bueno de Godoy, que foi substituído pelo eleitor Maximiliano de Oliveira Sampaio.
  
                                         (ass.) ANTONIO ALVES DOS SANTOS-Presidente
                                                   ADOLPHO MANUEL ALVES-Mesario
                                                   BENTO CORREA DOS REIS-Mesario
                                                   ANANIAS CARDOSO DOS SANTOS-Mesario
                                                   MAXIMILIANO DE OLIVEIRA SAMPAIO-Secretario



Prédio da Câmara/Prefeitura
de 1.897 à 1.928. Esquina da
Dr. Marques Ferreira  com
a Rua 15 de Novembro.



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          Título de Eleitor de Joaquim Cardoso dos Santos
          Secção 4ª  - Villa São João Baptista de Dourado
          Comarca de Brotas

 
Ata extraída do Livro Nº6, Fls.20, onde estão lavradas as Actas Eleitorais  da 4ª Seçção da Freguezia de São João Baptista de Dourado, Comarca de Brotas.
Neste período eram eleitos  06 vereadores, triênio 1896/1898, entre os vereadores elegiam para cada ano do mandato, na 1ª sessão em janeiro, o Intendente (Prefeito) e Presidente da Câmara.-,  
 













 

quinta-feira, 23 de março de 2017

CASA DOS PAPÉIS - 07 - OS BARÕES DE DOURADO



OS BARÕES DE DOURADO

A história de Dourado tem o testemunho vivo e lúcido de Dona Cecilia de Barros Pereira de Souza Braga, que tem o testemunho de vários parentes vivos e desaparecidos da saga que construiu o município. O surgimento da cidade, misturando às lembranças de sua infância; sua descendência e onde a história de Dourado se entrelaça com sua biografia estão sendo contados, a partir de hoje, com o titulo acima.
No livro recém publicado "Uma Menina Paulista" cujo exemplar foi oferecido a esta Folha, sua autora Heloísa Motta narra o seguinte: que no dia 24 de abril de 1863 houve o casamento das duas filhas mais moças do Visconde de Rio Claro, pois o tronco da família se encontrava na Fazenda São José naquela cidade.
Uma, a  nossa avó Maria Joaquina, casava-se com o 2º Barão de Piracicaba e foram residir onde hoje se encontra o Horto Florestal da Companhia Paulista em Rio Claro e a outra, Anna Carolina casava-se com o Conde do Pinhal, Antônio Carlos de Arruda Botelho, viúvo, tendo um único filhinho, o futuro Senador Carlos José Botelho
Ambas partiam ao que lhes estavam destinado, montando cavalos e levando os enxovais em carros de bois!!!
Entretanto, onde se encontrava uma das irmãs mais velhas, AMÁLIA CAROLINA? Acreditem; aqui em Dourado, muito bem instalada em sua fazenda na baixada de Trabijú.
AMÁLIA CAROLINA casara-se com JOSÉ LUÍS BORGES DE ALMEDIA, o futuro BARÃO DE DOURADO, a 13 de agosto de 1847. Desconhece se as terras foram adquiridas ou favorecidas por efeito de Sesmaria, uma vez que era ele possuidor de dinheiro e escravos. Iniciando a propriedade na baixada do Serrote, estendendo-se pelo Vale do Trabijú, subindo a encosta da Serra do Dourado, atravessando o Ribeirão Vermelho, abrangendo a parte mais alta da Serra onde se localiza a Vila Santa Clara e terras além. Em razão dessa imensa propriedade "cultivada" vieram a ser agraciados com o título de " BARÕES DE DOURADO " por Decreto Imperial de 13 de agosto de 1889. Foi por essa ocasião que construíram o imponente palacete em Rio Claro que lá ainda se encontra para testemunhar a opulência, funcionando como Museu Histórico de Rio Claro.
JOSÉ LUIS BORGES DE ALMEIDA, filho de Luís Borges de Almeida e de Maria Joaquina de Jesus.
AMÁLIA CAROLINA DE MELLO OLIVEIRA, filha dos Visconde de Rio Claro, irmã portanto de minha avó materna.
Desse casamento houveram onze filhos: Eulália, Olympia, José Luís, Júlia, Maria Isabel, Elisa, Adelaide, Carlota, Ernesto, Luís Carlos e João Batista.
Ao falecer deixaram como herança uma gleba já formada a cada filho. Destacarei o seguinte: conheci o ERNESTO, proprietário da Usina do Serrote, onde havia um grande alambique e parada de trem pois iniciara plantações de cana e ali trabalhava na sua fabricação. Situava-se ao lado do Obelisco e eu em criança o temia em razão do seu tamanho: além da estatura muita elevada possuía um vozeirão. A prima ISABEL residia na fazenda Babilônia. Lembro-me apenas da bonita sala de visitas com seu mobiliário em estilo Dona Maria I. O nosso grande amigo era João Batista. Ele e minha mãe foram criados como quase irmãos e possuíam o mesmo gosto: a grande paixão era a pescaria. Que Tempos!! JOÃO herdara a Fazenda Santa Elisa, sob cujas mangueiras, hoje pertence ao casal Flavio e Wilma Penteado Ferreira. Desse ramo da família não conheci outros primos de mamãe, mas citarei OLYMPIA que casou-se com seu próprio tio Eduardo Augusto e tiveram nove filhos. Residiram por longos anos num casarão de Rio Claro, onde hoje funciona o Colégio Bilac. JOSÉ LUIZ casado com Ana E. do Amaral pertencente a família muito abastada, cuja capela atesta o seu luxo e bom gosto. Felizmente a gleba que lhe foi destinada, Fazenda São José, possui proprietários que são verdadeiros continuadores da mesma grandiosidade e finura: casal Alice e Paul Haelhing. Citarei também LUIZ CARLOS casado igualmente com uma sobrinha, Maria Elisa. Esses, porém, não tiveram filhos. Desejei citá-los  por dois motivos: 1º) A sua fazenda, a Santo Antônio, pertenceu por muitos anos ao meu cunhado Jorge dias de Aguiar, ali cresceram os meus sobrinhos, Jorge, Pedroca e Maria Beatrys de saudosa memória... 2º) Li algo sobre Luiz Carlos de Oliveira Borges: ele possuía o melhor coração que uma pessoa possa tê-lo. Talvez pela frustação de não possuir filhos ou pela nobreza de caráter: quase todo dinheiro que lhe renderam os primeiros pés de café foi destinado aos pobres e doentes.
Enche-me de satisfação saber que tenho amigos que lêem com carinho o que escrevo sobre essa terra, compreendo que eu também a amo.


BARÕES DE DOURADO








JOSÉ LUIS BORGES DE ALMEIDA










AMÁLIA CAROLINA DE MELLO OLIVEIRA






















    Texto e Fotos de:


    CECILIA DE BARROS PEREIRA DE SOUZA BRAGA
 
Folha de Dourado Nº82(15/01/93), Nº84(22/01/93) e Nº85(29/01/93).    




















 

sexta-feira, 17 de março de 2017

CASA DOS PAPÉIS - 06: JOÃO JACOB KLAIN



 
FALAR DO PRÓXIMO
 
Não gosto de falar do próximo
Essa frase me surgiu
Falá da vida do João Branco
Ele mesmo é que pediu
Há tempo ele mora no sítio
Muita roça ele carpiu
Resolveu largá daquilo
Veja o ramo que seguiu
Vendê bilhete de loteria
Muito bem ele saiu
Levô sempre a vida mansa
Boa casa possuiu.
 
Pra falá do que eu sei
Pra isso sô muito franco
35 anos vendeu bilhete e
Até hoje por enquanto
Não deu a sorte pra Dourado
Nem com promessa pra algum santo
Até parece impossível
Represente um encanto
Até mudaro o nome dele
Que lastrô por todo canto
Nome próprio é Benedicto Braga
É conhecido por João Branco.

Braga tinha uma freguesia boa
À dinheiro ou até fiado
Onde tinha o Nardinho
Que tava sempre a seu lado
Comprava bilhete em pedaço
E também bilhete fechado
Sendo um rapaz honesto
Seus negócios legalizado
Sempre pagou suas contas
Em prazo e dia marcado
Assim fala quem conhece
Todo o povo de Dourado.

Eu bem dessa não sabia
Um amigo me informo
Braga tinha o bilhete da sorte
Veja no que resultô
Ele ofereceu ao Nardinho
Freguês que nunca falhô
"O bilhete me interessa
Mas o dinheiro acabô
Você me espera só dois dias"
A verdade confessô
Braga se achando apertado
O fiado recusô
 
Braga foi pra Jaú
Com seus bilhetes e sua lista
Não consegue vendê o bilhete
Nem por mais que ele insista
Não quis picá o bilhete
"Que opinião esquisita!"
O dia ia se passando
Já era hora finalista
"Prá mim vortá com o bilhete
Isso muito me prejudica..."
Vendeu o bilhete sem lucro
Passou pra outro cambista
 
Quando correu a loteria
No dia da extração
Era o galo no 1ºprêmio
Um mundo dum dinheirão
Braga muito aborrecido
Sem ter uma solução
"O que que fui fazê
Praquele freguês tão bão!"
Nardinho também cramava
Mas com muita razão
Nem queria brincadeira
Tava bravo que nem leão.
 
O rico já nasce quá sorte
Que vem por Deus verdadeiro
E no mundo tudo vive
Vamos vivendo o mundo inteiro
Quem tem saúde e amizade
Já possui muito dinheiro.
Ter inveja é pecado
Recramá é exagero
Há um ditado muito certo
Que serve para o mundo inteiro:
"Quem nasce pra um centavo
Nunca atinge um cruzeiro".
                                                                                                                                                                 
                               JOÃO BRANCO e BEM BRAGA      Praça São João/1978-Foto:OMC


                                                                                                                                                                      
                                                                                                                        
               
                                                                                                              
   Autor: JOÃO JACOB KLAIN
   Obra: POEMAS
   Edição: Setor Cultural UFSCAR
   Ano: 1987                                                                
 
                                                                         
 

quarta-feira, 15 de março de 2017

CASA DOS PAPÉIS-05: AMIGOS DO PASSADO-CLOVITO


CASA DOS PAPÉIS - 05

AMIGOS DO PASSADO

Bate-me uma tristeza imensa quando lembro-me de vocês.
Meu peito sente aquela angustia e por pouco as lágrimas não afloram de meus olhos, lembrando aqueles dias em que convivemos, nos divertimos e embalamos ilusões no rodopiar dos seus pés. Rodopiar que riscavam minha face, borravam minha maquiagem, mas que aqueciam meu coração. Minha maquiagem era desfeita pelo suor que escorriam daqueles que me faziam companhia. Na maior parte do tempo eu era solitário, mas ficava sempre aguardando o dia em que preparava-me para recebe-los. Recebia um carinho todo especial, com um trato característico  de um lorde, trocavam a minha roupagem, pondo sempre toalhas brancas e limpas, as vezes punham brincos multi coloridos, Hamilton como gostava de seus pindurucalhos, dando-me ares de um rei. Eu me sentia engrandecido, estufava o peito e dizia a todos que poderiam contar comigo para o que der e vier. Somente ficava triste quando meus companheiros começavam discutir e partiam para abriga. Ai ficava roxo de raiva, envergonhado, mas quando tudo passava e sentia novamente seus pés rodopiarem por meu corpo, tudo voltava ao normal, minha raiva passava e sonhava novamente e embalava nossos sonhos. E quando alguns pares mais afoitos se achegavam juntinhos trocando caricias e confidencias. Ai eu ficava encabulado, fingia que não era comigo e continuávamos a sonhar e a bailar. Gostava mesmo quando aqueles que se amavam diziam, como dois pombinhos enamorados, um no ouvido do outro: "TE AMO". Ai as minhas vistas se turvavam e fechando-as sentia-me desfalecer de alegria, pois comprovava que o amor existe e que é bonito. 
                                                                     Para poder continuar a sobreviver, apesar do coração atormentando e saudoso, coloco a minha memória a funcionar e lembrar das estórias que consegui viver. Estórias de Rui Rei, Cassino de Sevilha, Tabajara, Tanaka e seus "Filhos da Pauta", Nelson de Tupã, Sul América, Três do Rio, Os Cariocas, enfim um infinidades de personagens que gostaria e gostaríamos de reencontrar e poder abraçar, como todo carinho e paixão, que temos sobrando para dar. 
                                                                     Ai vem vocês e perguntam o porque esta recordação toda e tanto sofrimento? Mas é que nem tudo está perdido para nós, pois somos jovens e temos o coração jovem e podemos começar a nos encontrar novamente, para matarmos a saudade, reviver o passado e ensinar o mais jovens como podemos e como deve ser um encontro entre duas entidades que se amam e que gostam das mesmas musicas. Podemos fazer, em fevereiro, uma amostra daquilo que a saudade a experiência nos permite apresentar.
                                                                    Não sei se vocês já conhecem o meu nome, mas faço parte da Família Douradense a mais de 40 anos, sempre participante e ativo, sendo que somente nos últimos anos é que fiquei esquecido e sem poder cumprir com minha predestinação, mas não por falta de vontade, mas sim por falta de companhia para poder fluir a minha querência. Mas ainda me sinto jovem e cheio de vontade de trabalho. Estou para o que der e vier, dependendo apenas de vocês e das suas colaborações. Em meu registro de nascimento consta como data de nascimento o dia 21 de Janeiro de 1950 e como nome SALÃO DE BAILES e como sobrenome DOURADO CLUBE. Recordaram-se de mim? Estou sempre com vocês em minha memória. Ajudem um pobre ancião a encontrar o seu verdadeiro destino. SOCORRO!!!.
Agora tem uma turminha legal tomando conta de mim, e para que possamos nos encontrar em fevereiro eles precisam saber de vocês se estão dispostos a desenferrujar as canelas, azeitar os pés e botá-los a funcionar e bailar, bailar e mais bailar. TOPAS!!!. Eu bem que gostaria. Já estou retocando a maquiagem, receberei meus pindurucalhos e fogo nas canelas. É para já. Por favor respondem esta carta de amigo para amigo.
 
CLOVIS MACHADO FERREIRA (Clovito)
 
 
 
 
 
 
 
 

                                                                    

terça-feira, 14 de março de 2017

CASA DOS PAPÉIS-04: JOSÉ FRANCISCO VERNALIA




A VISÃO DE DOURADO
 
 Delineiam-se perspectivas da nova Dourado. O panorama de áridas e poeirentas ruas desaparece para tornar-se o quadro imaginado há tempos: as longas e negras alamedas que trazem o expressivo colorido do progresso que ronda a cidade.
Dourado principia a sair do silencioso estacionamento.
Moderniza-se para salientar a essência de seu nome, a cor áurea, o brilho do avanço, a pujança de uma população que luta ferreamente para situar a cidade no destacado lugar que merece.
As vias barrentas, quando cai a chuva, poeirentas, quando o sol as fustiga com seus raios, sentem-se parecer, sufocadas pelos ágeis braços da maquinaria que as prepara para o asfalto, marco preponderante de um sonho que se concretiza.
A comodidade, a limpeza, o belo aspecto à vista, eis a parte do que proporciona esse negro asfalto espalhado pelas ruas. As calçadas de passeio, padronizadas e arborizadas, complementarão a nova face que surge, além da iluminação a mercúrio que, breve, deverá ser estendida por todas as principais partes da cidade.
Os serviços de pavimentação e calçamento têm prosseguimento acelerados, para, em curto tempo, modificar radicalmente o tradicional conceito de que Dourado seria cidade estacionária. Progride e a população assiste a realização presente. Casas são erguidas diariamente na "Vila Seca", contribuindo para extensão do perímetro urbano.
A água, problema antiquíssimo, agora chega às residências abundantemente e com vigorosa pressão, após instalação de moderno sistema de fornecimento.
O líquido não mais serve para a existência de  reclamações.
Atende perfeitamente às necessidades: problema resolvido.
E, paulatinamente, virão as soluções exigidas para que os obstáculos pequenos ou grandes, sumam de vista.
Dourado integra a lista de municípios destinados a crescer, dentro ou fora de todas as expectativas de cada coração douradense.

JOSÉ  FRANCISCO VERNALIA
Jornal de Dourado-Num.243-Ano VI-Dourado-Domingo, 11 de Fevereiro de 1968
1967-Transformação de Dourado-Equipamentos da TRANSTÉCNICA ENG. E COM. LTDA






 

quinta-feira, 9 de março de 2017

CASA DOS PAPÉIS-02: NOTAS ESPORTIVAS



                              NOTAS ESPORTIVAS

        SPORT CLUB RIBEIRÃO BONITO EM DOURADO
 
Como noticiamos, seguiu domingo passado para a vizinha cidade de Dourado, um team do nosso "S.C. Ribeirão Bonito".
Quasi nas vésperas daquelle dia, recebemos amável convite para um exercício amistoso e para lá seguimos com esse intuito. Tão amistoso devia ser e foi, o nosso training que não houve troca de officios, não houve recepção e não houve banquete. Apenas um delicado e amável moço, sócio jogador do team amigo, daquella vizinha cidade, nos offereceu um copo de cerveja, mas, felizmente, sem o infallível acompanhamento de discursos.
Não vae neste nosso dizer, nenhuma censura aos amigos de Dourado. Foram todos muitos delicados e amáveis para comnosco e se não recepção, banquetes, etc., etc., foi porque a isso nos oppuzemos e os nossos amigos ignoravam a que hora devíamos lá chegar.
Dizemos tudo isso, não para desculpar a formidável sova que levamos, mas, para mostrar que, se fomos exhibir em terra extranha, foi em caracter muito reservado, foi a titulo de fazermos um exercício e não de jogarmos um desafio.
Devemos essa explicação ao publico desta cidade, pois não seria crível que o nosso "S.C Ribeirão Bonito", com um mez apenas de existência e meia dúzia de exercícios, tivesse a petulância de jogar um desafio com um team diariamente exercitado e pertencente a um club já há muito formado.
O nosso pessoal, daqui partiu plenamente convencido de ser derrotado, pois era a primeira vez que o nosso team ia jogar completo e em conjuncto, mas, como possuímos alguns elementos já práticos do sport, não contávamos levar a grande sova que levamos. 
Era nosso palpite o perder por uns dois ou três goals, porem, nunca por cinco como perdemos.
Mas quem pode contar com o imprevisto?!
Quem pode prever a urucubaca.
O imprevisto foi o vento que fez dois goals e foi um penalt-kik, aliás injusto, que produziu mais um goal.
A urucubaca, foi essa estradinha de caixa de phosphoros, marca barbante, e muito impropriamente chamada Douradense. Essa companhia julgando-nos capitalistas e querendo ganhar em alguns minutos o que talvez não ganhe em um mez, prejudicou-nos prejudicando-se.
Obrigou-nos a sahirmos daqui, uns a cavallo, outros de troly, às 10 horas da manhã, para lá chegarmos às 2 da tarde, cansados, cozidos pelo sol ardente, com o corpo dolorido e desconjuntados, estalando de dôr de cabeça e com o estomago ingurgitado da poeira do caminho. E foi nesse deplorável estado que entramos no ground dos Douradenses para fazer um sport que requer o corpo descançado. Não podíamos esperar outra cousa que não fosse uma derrota. Da nossa linha de forwards, só José Benedicto deu conta do recado e na defeza, apenas salientou-se Luizinho que foi a alma do team. Miguel também jogou bem e o Lucas não comprometteu os companheiros.
Mas o resto esteve abaixo da critica. Queiroz salientou-se pela ruindade, parecia um destes jogadores de ultima hora, apanhado a laço e daquelles que nunca viram foot-ball. Não muito longe delle esteve o Justiniano  que tanto se tem distinguido em nossos trainings.
Do goal keeper, do nosso Nenê, nada mais temos a acrescentar, já dissemos que o vento fez dois goals.
Em resumo, apanhamos de 5 a 0, mas não desanimamos com isso. Foi a falta de sorte, foi a urucubaca que nos deu tamanha derrota e resta-nos o consolo de ter sido um exercício amistoso e termos tido essa opportunidade de avaliar nossas forças.
Para se perder por tão grande differença, precisava que fossemos dominados, mas não o fomos.
O goal dos Douradenses foi tão atacado como o nosso e só não fizemos pelo menos um goal, tão bonito e tão bem feito como foram dois dos goals marcados pelos Douradenses, porque os nossos forwards não sabiam schootar e pareciam estar dormindo em pé.
Dos Douradenses, todos jogaram bem, com exceção de um dos backs que nos pareceu um pouco fraco.
Mas, dentre todos merece atenção o center-alf que chegou a salvar um goal já perdido pelo goal-keeper.
Em fim, os nossos vizinhos e amigo, mostraram possuir um team homogenio exercitado e disciplinado.

CORREIO D'OESTE - NUM.61 - ANNO I - Ribeirão Bonito, 9 de Outubro de 1915 
Gentileza do Sr.  Antonio Alicio Simões
Reportagem da aventura que foi realizar este amistoso.  Registro raro sobre um jogo futebol, realizado em 03/10/1915,  na cidade de Dourado.


















   Foto da época - Gentileza do Mimo/Maristela Maluf.